O RELÓGIO

capa
PRÉMIO JOVENS CRIADORES 2012

«Que um jovem poeta escreva um poema com este fôlego, sem pretensões outras que não a de um desejo de dizer a verdade, como um grito de revolta e uma clara reivindicação a um discurso poético que se abra como uma passagem para uma dimensão mais poética da vida, procurando, não uma falsa ou ilusória verdade, mas antes uma autenticidade plena da própria vida, eis o que mais me toca na sua poesia. Na sua simplicidade aparente (e que oculta uma densidade existencial imensa), Samuel Pimenta não se submete ao jugo do facilitismo da linguagem que grassa hoje na poesia contemporânea. Traz consigo esse desejo, a meu ver irrecusável, de dizer o mundo, mas dizê-lo de uma forma inaugural, rompendo com uma lógica do déjà vu, do cliché e da banalidade. É uma poesia sem artifícios de espécie nenhuma, clara e fluída, onde as palavras conquistam um peso justo. E a palavra quer-se justa. Não se quer bonita nem feita para agradar, pois disso se faz o discurso redondo, para parafrasear o poeta. Ela quer-se nome, luz, dizer. Ela quer-se livre, como o poeta Samuel Pimenta o sabe. Tal como a vida e “A vida é liberdade!”. “Liberdade de blás,/liberdade de tiques./Liberdade de taques./Liberdade”. Ela quer-se inteira, paradoxal, intrusiva, incandescente e aberta ao sonho. Porque só através dela pode o homem romper o cerco infernal dos relógios ou o que é o mesmo que dizer, o da vida.»

Maria João Cantinho

1.ª Edição: Outubro de 2013