Bibliofilia é o amor aos livros. Porque para mim o amor ao livro é, mais do que o amor ao objecto em si, amar o que ele traz dentro: o conhecimento. Aqui partilho livros da minha estante, que vão da literatura aos dicionários, da gastronomia aos atlas, dos livros práticos à espiritualidade. São as minhas escolhas pessoais e diversas, sem a pretensão de fazer crítica. Apenas amigáveis sugestões de leitura, como quem passa um livro de mão em mão.

Dou início a este novo momento de partilha aqui no site com um livro que me parece adequado ao tempo que estamos a viver: O Diário de Anne Frank. A história de Anne Frank é um dos testemunhos mais conhecidos do Holocausto e o livro trata-se do diário que escreveu durante os dois anos em que esteve confinada num anexo em Amesterdão, juntamente com mais sete pessoas, para escapar à perseguição aos judeus pelos nazis. Acabou por se revelar uma tentativa falhada. Anne Frank veio a morrer de tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen.
Li este livro na adolescência, numa edição da Livros do Brasil, de 2002; entretanto já saiu uma nova edição. Considero-o uma leitura fundamental, pela consciência que meu deu da II Guerra Mundial e do impacto que trouxe ao quotidiano das pessoas. De pessoas como Anne Frank e a família, que por serem judeus tiveram de limitar as suas vidas ao mínimo da sobrevivência na clandestinidade.
Decidi iniciar esta nova série da Bibliofilia com este livro, pois já desde Março do ano passado, com o primeiro confinamento em Portugal, Anne Frank começou a pairar na minha mente. Não que esteja a comparar o confinamento sanitário que estamos a fazer, (apesar de tudo) privilegiado, com o confinamento imposto por uma guerra, como o que Anne Frank enfrentou. Mas face à inevitabilidade de enfrentar as paredes de casa como o único espaço “seguro” em que é permitido estar, não pude deixar de pensar nela, que do seu confinamento, seguramente mais ameaçador e incerto do que o nosso, nos deixou um sinal de esperança, cuja força persiste até aos dias de hoje.
Além disso, há um segundo motivo para ter escolhido este livro: o facto de ser um testemunho das consequências nefastas que os actos fascistas e nazis tiveram (e têm) sobre as vidas de outros seres humanos. É, por isso, um livro adequado ao nosso tempo. Porque só mantendo a memória viva, passando-a de geração em geração, será possível rumar a um futuro livre do fascismo. A um futuro mais humanitário.
